domingo, 4 de agosto de 2013

Pálido Ponto Azul



Nela não se vêem sinais da civilização humana, não se vê a divisão de nações. Esta foto já colocava em evidência a ignorância do nacionalismo, a obscuridade do fanatismo religioso e a tragédia da ganância, hoje convertida em religião – a religião do mercado – cujo Deus é o dinheiro, e sua face mais inconseqüente, as guerras. A visão do astronauta da Apollo 17 oferecia uma nova filosofia, a filosofia planetária, a visão do nosso planeta inteiro com uma fina superfície de vida, tão fina e frágil que não se percebe de uma distância relativamente pequena.
Foto tirada pela Voyager mostrando a Terra a 6 bilhões de km de distância.
E aqui eu deixo vocês com um pequeno trecho do primeiro capítulo do Livro “Pálido Ponto Azul” (Pale Blue Dot), um livro que vale a pena ser lido, pela beleza de sua profunda sabedoria, uma jornada no tempo e no espaço guiado da maneira simples e poética, mostrando os limites da exploração espacial e apostando que no futuro, nos teremos que voltar a ser andarilhos, como no passado, mas desta vez nas estrelas:
“Olhe novamente para aquele ponto. É aqui. É a nossa casa. Aquilo somos nós. Nele, todos que você ama, todos que você conhece, todo mundo de quem já ouviu falar, todos os seres humanos que existiram, viveram as suas vidas. O agregado da nossa alegria e sofrimento, milhares de religiões, ideologias e doutrinas econômicas confiantes, cada caçador e lavrador, cada herói e covarde, cada criador e destruidor de civilização, cada rei e camponês, cada jovem casal apaixonado, cada mãe e pai, criança esperançosa, inventor e explorador, cada professor de moral, cada político corrupto, cada super celebridade, cada líder supremo, cada santo e pecador na história da nossa espécie viveu aí, num grão de pó suspenso num raio de sol.
A Terra é um palco muito pequeno numa vasta arena cósmica. Pensem nos rios de sangue derramados por todos aqueles generais e imperadores, para que, na sua glória e triunfo, eles pudessem se tornar os donos momentâneos duma fração desse ponto. Pensem nas crueldades sem fim infligidas pelos moradores dum canto deste pixel aos quase indistinguíveis moradores de algum outro canto, quão freqüentes as suas incompreensões, quão ávidos eles são para matar uns aos outros, quão ardentes os seus ódios.
As nossas exageradas atitudes, a nossa imaginada auto-importância, a ilusão de termos alguma posição privilegiada no Universo, são desafiadas por este pálido ponto de luz. O nosso planeta é um cisco solitário na grande e envolvente escuridão cósmica. Na nossa obscuridade, em toda esta vastidão, não há indícios de que vá chegar ajuda de outro lugar para nos salvar de nós próprios.
A Terra é o único mundo conhecido até agora capaz de abrigar vida. Não há mais nenhum outro, pelo menos no próximo futuro, onde a nossa espécie possa migrar. Visitar, sim. Estabelecer-se, ainda não. Gostando ou não, por enquanto, a Terra é onde temos de ficar.
(Carl Sagan, “Pálido Ponto Azul”)

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