quinta-feira, 24 de abril de 2014



#NinguemMereceSerEstuprado

Mulheres e homens de todo o Brasil estão protestando pelo Facebook após o resultado de uma pesquisa divulgada pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) que apontou que a maioria dos brasileiros acha que “Mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas”. Segundo a pesquisa, 65,1% das pessoas – incluindo homens e mulheres – concordaram com essa informação. Já 58,5% concordam com a afirmação “Se mulheres soubessem como se comportar, haveria menos estupros”. 
“O que indigna é saber que as mais da metade das pessoas que responderam a pesquisa são mulheres, conforme um estudo de cada quatorze mulheres uma será vitima de abuso sexual. Então das 14 mulheres que mais gostamos uma vai ser vitima ou conforme pesquisa vai merecer o estupro... 
Eu ainda acredito que no final o bem vence. Mas precisamos nos unir dia a dia contra essa política machista, deformada e injusta”, diz Ana Carolina Rebello. 
Em muitos sites tem pessoas dizendo que estes homens deviam receber pena de morte ou castração. Não acredito que seja a solução, porque isso significa olho por olho dente por dente. Ódio atrai vingança, e essa vingança quer dizer escolher sobre o destino da vida de outro ser, não importa o quão ruim e monstruoso seja este ser. Não temos o direito de decidir acabar ou não com a vida deste. Enquanto isso, poderíamos estar refletindo o fato de que ninguém pensa na educação desses homens na infância e na adolescência. Hoje em dia vemos garotos pequenos falando de garotas como símbolos sexuais e são poucas às vezes em que vi os pais tomando alguma atitude. E sim, muitas vezes os estupradores são doentes, mas se o governo oferece um tipo que prisão com tratamento psicológico, talvez já significasse algum avanço.
“Nina Queiroz (iniciou campanha online contra a ideia de atribuir culpa do estupro à vítima) ressalta que o novo Plano Nacional de Educação (PNE), que está tramitando no Congresso, prevê uma educação voltada para a promoção da igualdade de gênero. No entanto, diz a socióloga, esse princípio está sendo questionado por grupos conservadores, sobretudo pela bancada evangélica, que querem retirá-lo do texto”.
"Os grupos conservadores estão numa campanha ferrenha para que isso seja eliminado do texto do plano. Eles estão combatendo o que chamam de uma ideologia de gênero. Isso é um retrocesso gravíssimo. Se o governo permitir que isso aconteça estará sendo conivente com essa cultura do estupro revelada nesses dados que o Ipea apresentou", disse Nina.
E vários internautas estão ironizando o conteúdo divulgado pelas participantes, associando feministas a mulheres indesejadas, afirmando que mulheres deveriam andar armadas para não serem violentadas e lançando provocações, como "ninguém é estuprada em casa lavando a louça". 
Realmente em casa ninguém é estuprada, mas por que as mulheres não deveriam ter direito a sair tranquilamente pelas ruas? Por que só os homens tem esse direito? Quem foi que disse que eles são melhores ou piores? É ai que volta a questão, que tipo de educação estes homens tinham em suas casas? Os machismos destes, só servem de apoio aos estupradores, será que estão lembrando que suas mães, irmãs e namoradas podem ser as próximas vítimas?
Uma pesquisa realizada entre maio e junho de 2013 em todo o Brasil indica que as maiorias das pessoas entrevistadas concordam que maridos que batem nas esposas tem que ir para a cadeia. E mais da metade concordou que a culpa não é da mulher. Então por que seria diferente neste caso? Algumas pessoas dão os seguintes exemplos: “Em casa, a mulher não precisa fazer nada para apanhar, muitas vezes uma simples reclamação pode acarretar na violência dos maridos”. Mas uma contra opinião diz: “A culpa não é da mulher se ela sente calor ou se o trabalha em uma zona pouco movimentada da cidade”. Nunca é culpa da vítima, em nenhum caso.
. Contudo a campanha não nasceu com o ideal de conscientizar estupradores, como estão afirmando algumas pessoas nas redes sociais, mas sim, de conscientizar pessoas que apoiam o fato de que mulheres com roupas ousadas devem ser estupradas. Isso deve parar, antes o estupro se torne algo natural e merecedor.

#NinguemMereceSerEstuprado 

Porque eu quero ser jornalista...

Por mais que eu adorasse a ideia, eu não sou uma escritora, não sou aquela que vai levar as pessoas para outros lugares, que vai fazê-las atravessar pontes, criar mundos, entrar em armários, criar universos e versos. Não sou e isso me da uma ponta de tristeza às vezes...

Mas tudo bem, pois sou aquela que quer te mostrar que o mundo também pode ser excelente aqui fora, sou aquela que quer que todos vejam o mundo, mesmo que por simples fotos, textos e sentimentos escritos. Quero que vocês vejam o mundo como realmente é, quero que fantasiem sobre ele e com ele. Quero que vocês saibam o que acontece nos horizontes além das suas rotinas. Que vocês saibam que todo tipo de informação, boa ou ruim, sobre esse nosso lar, que chamamos de Terra, que essa humilde transmissora puder fornecê-los eu o farei.
Eu sou aquela que quer trabalhar em um jornal, um jornal de verdade. E que vai ficar atrás do computador, tentando pensar em uma forma de lhes dar alguma noticia ruim, sem que percam as esperanças, que vai estar sentada na cadeira, sem conseguir escrever, pois não para de sorrir com algum comunicado bom.

Sei que não será fácil. Mas que tipo de pessoa eu seria, se não tentasse?
Sumi porque só faço besteira em sua presença, fico mudo
quando deveria verbalizar, digo um absurdo atrás do outro quando
melhor seria silenciar, faço brincadeiras de mau gosto e sofro
antes, durante e depois de te encontrar.
Sumi porque não há futuro e isso não é o mais difícil de
lidar, pior é não ter presente e o passado ser mais fluido que o ar.
Sumi porque não há o que se possa resgatar, meu sumiço é
covarde mas atento, meio fajuto meio autêntico, sumi porque
sumir é um jogo de paciência, ausentar-se é risco e sapiência,
pareço desinteressado, mas sumi para estar para sempre do seu
lado, a saudade fará mais por nós dois que nosso amor e sua
desajeitada e irrefletida permanência.

– Martha Medeiros

Traduzir-se

Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir uma parte
na outra parte
— que é uma questão
de vida ou morte —
será arte?

~~ Ferreira Gullar.