domingo, 2 de novembro de 2014

Balanço


A infância não foi uma manha de sol:
Demorou vários séculos; e era pífia,
Em geral, a companhia. Foi melhor, em parte, a adolescência, pela delícia
Do pressentimento da felicidade
Na malícia, na molícia, na poesia,
No orgasmo; e pelos livros e amizades.
Um dia, apaixonado, encarei a minha morte:
E eis que ela não sustentou o olhar 
E se esvaiu. Desde então é a morte alheia
Que me abate. Tarde aprendi a gozar
A juventude, e já me ronda a suspeita
De que jamais serei plenamente adulto:
Antes de sê-lo, serei velho. Que ao menos 
Os deuses façam felizes e maduros
Marcelo e um ou dois dos meus futuros versos.

_Antonio Cicero.

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